(Cuidado! Esse texto contém
Spoilers: revelações sobre o conteúdo da história do filme, que podem estragar
alguma surpresa para quem ainda não assistiu)
Depois
de assistir a esse belo filme, é possível facilmente fazer uma análise no campo
de relacionamentos devido a seu rico conteúdo, além, claro, de considerá-lo uma
construção de artes fabulosa! Caso você não tenha visto, quando tiver a
oportunidade é uma ótima recomendação... E por conta disso talvez não seja
interessante ler esse texto agora. Mas caso tenha vista e se interesse por essa
resenha, seja bem vindo(a). Haverá algumas informações sobre o enredo, por isso
fica o aviso para os que não querem
saber nada do filme antes de vê-lo.
O
filme La La Land retrata o inicio do
relacionamento entre os protagonistas, Sebastian e Mia, e o caminho que eles percorrem
para alcançar seus objetivos. De inicio, o primeiro encontro entre eles se dá
de forma hostil e fugidia, mas com o tempo eles vão se conhecendo por um
conjunto de acontecimentos que geraram o seu reencontro. Pode parecer um
roteiro comum onde os personagens principais são impelidos a se conhecerem, mas
a vida trás muito dessas histórias, desses acasos (ou destino, ou conforme cada
um se identifique melhor com sua própria descrição). E não dificilmente ouvimos
de amigos, familiares e pacientes as mais diversas histórias de como conheceram
seus parceiros amorosos, e que se transformados em filmes, como o que cito
neste texto, poderíamos até achar que é “coisa de cinema” por seus entrelaços e
desdobramentos.
A
história em sua totalidade é belíssima! Mas não são apenas momentos “felizes” que
se apresentam, pois o sofrimento está lá também. E é aquele sofrimento que
persegue os que se separam de forma não aguardada, tal qual o encontro, o
primeiro olhar. O filme trata do desfecho dos desejos, onde avalia o que nos
custa ao seguirmos por um caminho em direção ao que queremos, aos “sonhos”, e
que, muitas vezes podem ir na contração ao que o parceiro ou a parceira desejam.
Em determinado momento da história, Sebastian decidi deixar de lado seu sonho de
abrir um clube de Jazz, e toda a representação por trás desse sonho, para poder
entrar numa banda e ganhar um dinheiro fixo. No entanto, isso se inicia por
conta de uma suposição dele sobre o desejo de Mia. Em determinado momento do
filme o personagem questiona a namorada “Achei que quisesse isso. Agora parece
que não quer mais”, e ela perdida pelo rumo da conversa responde que não era
isso que ela queria para ele. Contardo Calligaris, psicanalista, em uma de suas
palestras sobre relacionamentos afetivos diz, com uma pitada de humor, que o
motivo que nos faz casar não é por amor, mas para acusar o outro de que não
fizemos as escolhas que queríamos. E esse trecho do filme exemplifica bem isso,
apesar de não ser só isso. Na psicanálise se diz que o sujeito deseja o desejo
do outro. Uma tradução seria que Sebastian desejou entrar na banda porque assim
estaria satisfazendo um (suposto) desejo de Mia – este suporto desejo que foi
apresentado com os questionamentos da mãe desta sobre a vida profissional do
personagem.
A
busca pelo que dá rumo ao desejo também trouxe algumas cobranças para Mia. Esta
dedicou seis anos da sua vida na direção de sua profissão, abandonando outras
possibilidades para conseguir alcançar seu sonho, ser uma atriz reconhecida.
Chegou o momento de investir sua libido, e esse investimento lhe foi
financeiro, emocional, físico e intelectual. Mas o retorno não foi o que
esperava e se viu frente a desistir e buscar alternativas para a vida. A
frustração pelo fracasso enfraquece seu desejo. Mas o fracasso já lhe havia
acontecido, não o fracasso do fazer surgir esse desejo, pois esse sempre teve
êxito em aparecer nesses anos, mas o fracasso por conta de outras entrevistas e
audições. Percorrer o que se deseja custa energia. Mas o que frustra mais?
Persistir sem alcançar ou desistir?
Ambos
os personagens, para buscarem seus objetivos, para seguirem em direção aos seus
sonhos, abriram mão do relacionamento, mas não sem o peso do questionamento de
como teria sido essa relação. O desejo se molda e se direciona para outros
pontos, se torna demanda e é satisfeito (a demanda, e não o desejo). E por fim,
a história amorosa os marca pela vida. Abriram mão do relacionamento, mas
ficaram marcados por ele. Parece até uma sentença fria e exagerada, mas como é
fácil puxar na lembrança quem nos marca na vida, na carne e no consciente (já
que é muito difícil explorarmos no nosso inconsciente), basta lembrarmos dos
nossos pais. Bem ou mal eles deixaram suas marcas sobre nós.
Um
relacionamento não é necessariamente “bem sucedido” pelos longos anos em que o
casal permaneceu junto. Isso por si só não basta para dizer que seria “um casal
feliz”. Basta ficarmos atentos as histórias a nossa volta para ouvirmos os
casos mais variados de pessoas que querem abrir mão de seus relacionamentos, mas
possuem várias duvidas e inseguranças para dar iniciativa à investida. E é uma
grande investida de energia! Calligaris comenta que “Um casamento que valesse a pena seria o casamento que cada um
autoriza o outro a desejar, a ir atrás de seu desejo... Potencializa o desejo
do outro. Não o contrário”. E nesse sentido o relacionamento dos personagens foi
bem sucedido. Ambos conseguiram atingir seus objetivos iniciais, podendo
encontrar alguma satisfação naquilo que desejavam. Mas por outro lado, não
escaparam do peso do rompimento de uma relação amorosa. É raro ouvir quem não tenha passamos longos
períodos de elaboração por conta de um término amoroso. E se acontece, geralmente
sendo possível em casos em que ambos concordam pelo enfraquecimento dos laços
que mantinham a união do casal, talvez justamente por terem já elaborado antes do
fim.
La La Land se trata de um filme de amor, de sofrimento, de reconhecimento
do desejo, de luto da relação, e um pouco sobre a satisfação de se alcançar um
objetivo (talvez por uma pura questão de foco da história), e que ainda que o
acaso nos ofereça novas oportunidades, algumas coisas ficam, mas não quer dizer
que não seja possível encontrar outras fontes para direcionarmos nossas
energias para outros sonhos.
Leandro Winter
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