Qual é a religião do seu
psicólogo? E a religião dele (ou não escolha religiosa) apresenta alguma implicação
sobre o paciente? Para ambas as perguntas a resposta é: Depende (não deveria
ser diferente rsrs).
Falar
sobre religião durante um processo psicoterapêutico não é um problema. Pode ser
muito bem vindo, pois a fórmula para que uma psicoterapia ocorra é que o
paciente possa trazer os assuntos que desejar: não é um espaço para julgamentos.
Mas o psicólogo falar de religião como uma crença particular dele ou apresentar
uma discordância sobre as religiões vai contra uma postura adequada a um
profissional de saúde mental. Isso porque algumas pessoas podem ter
dificuldades em lidar com suas crenças, deixando de acreditar em algumas coisas
ao longo da vida e se esforçando para encontrar conforto em uma nova. O tema da
religião é um assunto que de alguma forma está entrelaçado com outras questões,
próprias da história da pessoa. Então, nada mais natural do que se discutir
sobre aquilo que lhe trás alguma dúvida ou mesmo angústia. Não é encontrar a verdade
universal em uma crença, nas a verdade do indivíduo (que pode acabar passando
por uma crença). Por isso é necessário o
cuidado que o profissional precisa ter de não confundir sua crença ou descrença
com a do paciente. Neste momento não se trata de discutir o que se acredita ou
o que não se acredita, mas sim, oferecer um espaço para que se discuta aquilo
que causa algum incômodo, seja o que for o assunto.
Mas
não é apenas esse o ponto, mas também que a figura do profissional pode de alguma
forma influenciar os outros (ainda que não perceba), sendo como que uma figura
referencial de saber. Não é a toa que o CFP (Conselho Federal de Psicologia –
regulamentador da ética da profissão) veda ao psicólogo induzir a convicção religiosa,
política, moral etc (Resolução CFP nº 10/2000). Nesse sentido, não seria
interessante a apresentação como que um “Psicólogo Cristão”, por exemplo (e pode
ser qualquer uma religião aqui). Pois isso já denota algum nível de posicionamento
de crença (ainda que não necessariamente ocorra sua aplicação nos consultórios);
pode dar a entender uma separação dos cristãos e não cristãos com esse título
profissional. Não se trata se tal religião é ou não correta. De forma alguma! Trata-se
de ter um espaço para ser ouvido, e por isso justamente não se espera que haja
uma interferência de uma crença do psicólogo sobre a crença do paciente. Ou
será que às pessoas esperam a opinião do médico sobre qual time se deve torcer,
quando vão fazer um exame? Talvez até aconteça, na verdade.
O posicionamento de um psicólogo pode influenciar
opiniões, crenças, valores, ainda mais quando ele expõe ideias concretas: “O
melhor para você é...” e etc. É como se houvesse alguma magia em torno dos
profissionais, como que detentores de algo maior. Por exemplo, o quanto se leva
em consideração as afirmações de médicos como certezas universais: Ele(a) falou, tá falado! Antigamente os
médicos eram até mesmo conselheiros das famílias, assumindo um papel além da
sua função. O ponto é, se um psicólogo oferece uma crença particular dele
durante algum momento de psicoterapia “Acho que lhe falta Deus...”, algo não
vai bem.
Somos
seres sociáveis e influenciados pelos outros, seja por causa de um grupo ou por
um indivíduo. Devido à obtenção de algum conhecimento, existe uma
responsabilidade na postura do psicólogo. Por isso é necessário (para além do
seu código de ética profissional) reconhecer que pode ser um formador de
opiniões ainda que não queira; como são os Youtubers
hoje em dia. Sim! Youtubers são
formadores de opiniões, tenham seus vídeos conteúdos de qualidade ou não (e
existem muitos vídeos sem qualidade!).
Essa é a realidade do momento que vivemos.
Não
importa qual é a religião do seu psicólogo ou a falta de crença dele. Ele não
esta ali para lhe dar sermões de sua fé (ou no mínimo não deveria). E é bem
provável que ele possa acabar acreditando em algo diferente do que seu paciente.
De forma alguma crer ou não em algo deveria ser um impedimento para o processo
de uma psicoterapia. Isso não é um problema, desde que ele possa respeitar seu
paciente e permitir que este fale sempre aquilo que lhe vier à mente, sem o
censurar por isso. Talvez em algum momento possa ser até que algum conhecimento
religioso venha a ser apresentado durante alguma discussão, mas que possa ser
como um meio para um fim, como uma metáfora, analogia, algo que venha a ser
utilizado como uma ferramenta frente ao diálogo psicoterapêutico: venha como
uma função, e não como, por exemplo, repressão.
Autor: Psicólogo e Psicanalista Leandro Winter
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