Em muitos momentos da nossa vida queremos atingir um
determinado objetivo. Essa intenção desperta a vontade de conhecer os caminhos
e maneiras de conseguirmos conquistá-lo. Mas, seja qual for ele, e pode ser
tanta coisa, depois que se alcança o que se queria, notamos que aquela sensação
calorosa de plena felicidade por finalmente chegar a essa conquista acaba
passando e dando lugar a uma sensação diferente, mas bem conhecida: a sensação
que ainda falta algo.
É verdade que ao alcançar o que queremos nos
sentimos muito bem e felizes por isso, mas também é verdade que essa felicidade
não consegue fazer sumir uma sensação curiosa de que é necessário algum outro
objetivo de vida, nem que seja se ocupar com algum tipo de atividade ou mesmo
iniciar uma busca até se encontrar algo que seja interessante aos nossos
olhos. Mas o ser humano possui essa
sensação em si, é parte dele. E é, por um lado, bom que seja assim, essa
sensação de que falta alguma coisa, de que existe um vazio em nossas vidas que
palavras não conseguem definir exatamente o que poderia ser isso. E mais! Nunca
saberemos o que exatamente preenche essa falta/vazio. Mas calma lá! É preciso
entender o que isso quer dizer.
Pela teoria do psicanalista francês Jacques Lacan (1901
- 1981), seguidor das teorias de Sigmund Freud (1856 - 1939), essa
característica humana quer dizer exatamente algo que não pode ser simbolizado,
que não é possível de se definir numa imagem, palavra ou representado por ela:
a falta. Simplesmente ela está lá e a buscamos preenchê-la ao longo da nossa
vida sem nunca de fato conseguir. Isso pode parecer algo terrível de primeiro
momento. Poderia se pensar com isso que nunca iremos nos sentir bem pelo que
queremos alcançar, ou estar em paz com
nós mesmo, mas essa perspectiva não quer dizer isso. Realmente podemos nos
sentir felicidades por nossas escolhas e nos sentirmos satisfeitos pela forma
como nossa vida é. O que quer ser dito com isso é que essa falta pode ser
entendida como um “gerar movimento”.
Supondo
que seu objetivo fosse ver o mar, pois nunca o viu nem mesmo pela televisão. Ao
chegar à praia, vislumbra um horizonte belíssimo de um azul escuro vivo.
Espetacular! Depois de alguns momentos hipnotizado pela beleza do que se vê,
tem-se a vontade de chegar até ele para molhar os pés. Pouco a pouco a
experiência pode ir evoluindo até chegar ao ponto de se experimentar molhar um
pouco mais, até as coxas. Mas antes de tudo isso, foi necessário um planejamento
para se alcançar o objetivo. Era necessário saber quais seriam os recursos
necessários para se chegar até a praia, qual seria o investimento necessário,
de tempo e dinheiro ou o que for. E tudo isso gerou um movimento: sair de um
ponto A (lugar comum) até um ponto B (Praia. Lugar novo). A percepção de que
algo nos falta, seja o que for que fantasiamos o que é, gera um movimento de
sair de um lugar comum para um lugar novo. E isso não quer dizer apenas
literalmente. Quer dizer algo mais simbólico. Algo mais sutil, que nos trás
novas sensações.
Podemos querer que nosso jeito de ser fosse de uma
determinada forma de agir e pensar. Temos uma ideia de como seria interessante,
mas com o tempo se descobre coisas novas ao longo dessa experiência de tentar
descobrir. Por exemplo na praia, enquanto se pensava apenas no mar, sentir a
sensação da areia fina e quente nos pés descalços também pode ser algo
maravilhoso.
Lidar com a sensação de que algo nos falta não é
fácil. Não estamos falando aqui de algo que um dia existiu e agora deixou de
existir. É um outro tipo de falta. Talvez possa ser entendida no sentido de
existência do ser. Um desejo de
conquistar o que não pode ser conquistado e que não se sabe do que se trata.
Por Leandro Winter
Otimo texto! a falta é sem dúvida um sentido existir e persistir. Muito bom
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