Sobre a morte física e a morte simbólica





Quando o assunto se trata de lidar com a morte, muitos preferem não pensar nisso. Provavelmente haverá pessoas que não irão abrir esse texto justamente por não ser um assunto agradável. Não é vergonha alguma dizer que não se gosta de pensar nisso ou que pensar na morte nos trás angústia. Afinal, isso é algo que todos nós iremos enfrentar, mesmo não querendo.  

Quando pensamos em morte, podemos associar vários sentimentos que preencher com tristezas e esvaziam a felicidade. Podemos dizer que a depressão empreita nesses momentos, seja lidando com a morte de alguém próximo ou a eminência da nossa própria. Quem passou por essa experiência de perda de alguém querido, por exemplo, certamente terá sua forma particular de lidar com essa situação. Cada um leva seu tempo para conviver com isso.

Podemos pensar aqui em uma morte física e em uma morte simbólica. A morte física, é claro, é a que se refere ao corpo. Em pouco tempo, esse corpo é sepultado e sobram apenas imagens que nos fazem lembrar quem foi aquela pessoa. É um grande choque, certamente. E muito difícil de passar por isso, ainda que se tenha apoio de várias pessoas. Ainda assim, não iremos acompanhar essa morte física por muito tempo. Chegado o momento, nos despedimos e continuamos mais um dia. Com o tempo teremos que voltar a rotina de trabalho, de cuidados com a família, os planos futuros e coisas que não podemos deixar de lado. Mas a dor permanece por muito tempo e a impressão é que essa pessoa ainda vive. E é assim mesmo? Sim, é.

A morte simbólica nos leva para além no tempo. São semanas, meses e até anos com pensamentos pesados e tristes que nos relembram momentos e a saudade. Passar pela morte simbólica é um processo muito mais demorado do que passar pela morte física. De fato, muitos dizem o quanto é estranho isso, pois “não dá para acreditar que aconteceu”. E em algum momento pensamos que iremos rever essa pessoa querido. Em nossa subjetividade a imagem psíquica da pessoa ainda vive. As experiências compartilhadas, os bons e maus momentos juntos permanecem vivos em nossa consciência (e em nosso inconsciente). É muito mais difícil dar um novo significado para tudo isso, pois justamente representa não haver mais possibilidades de gerar novos momentos juntos. Leva-se tempo para dar um novo sentido para esse vazio que a pessoa deixou.

Temos medo de enfrentar esse assunto e é fácil de entender. Lidar com a morte é lidar com o fim das possibilidades. Mas saber que ela é um fluxo da vida e que estamos todos juntos nesse caminho, compartilhando esse medo e descobrindo meios de aceitar e conviver com isso nos permite abrirmos nossos olhos um pouco mais para o que está a nossa volta. Aprendemos a relevar brigas por poucas coisas, oferecemos mais amor e compreensão, aceitamos sonhos e fazemos o possível para torná-los realidade, enfrentamos nossos maiores medos e nos esforçamos para superá-los. É se envolver com a música “Epitáfio” dos Titãs e sorrir no presente que nos pertence.  Não é uma fórmula mágica superar a morte, e nem todos querem lidar com ela. Mas falar mais sobre ela parece trazer um pouco mais de paz.

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