O quanto as pessoas querem se entender? Uma questão complexa.



                   Quando lidamos com pessoas, seja qual for o laço subjetivo que tenhamos com elas, ou seja um mero momento em que alguém passa por nossa vida, existe uma possibilidade de conflito por desentendimentos. Eventualmente algo irá nos desagradar de alguma forma, seja porque a pessoa disse algo para você que é diferente da sua concepção, do que acredita, ou mesmo algo ofensivo, seja porque você fez ou disse algo que a pessoa não gostou e por conta disso ela irá argumentar contra você, seja por qualquer motivo que for, vai acontecer em algum momento da vida, pois somos seres que dependem do contato com outras pessoas para manter um equilíbrio de bem estar psíquico, mas cada um têm suas próprias concepções e ideais de vida. Iremos nos socializar de alguma forma, isso é fato. E, por conta disso, parece que se relacionar com outras pessoas se torna quase um sinônimo de conflito em algum grau.
                   Mas um conflito não se limita ao surgimento de uma situação desconfortável entre duas ou mais pessoas, um embate de opiniões, em que os ânimos ficam a flor da pele e se discute, e muito menos se limita quando a pessoa quer fazer da ação uma forma de lidar com isso: infelizmente às vezes por meio da violência. Algumas vezes o conflito é “silencioso”, é interno. Ele também aparece por meio do “ficar calado”, e isso faz nascer na pessoa muitas vezes uma insatisfação por se manter assim e não ter outra atitude. Nem todo mundo diz o que pensa. Nem todos querem alimentar uma discussão.
                As pessoas possuem concepções de mundo próprias. Sentem coisas de formas diferentes de outras pessoas.  Ainda que nomeiem uma bebida como “suco de laranja” como sendo a mesma bebida que a outra pessoa pediu para o garçom, o suco pode parecer mais doce para uns do que para outros. Ou você nunca passou por uma situação em que mesmo gostando do que estava bebendo, compartilhando com outra pessoa, ela diz que o gosto não a agrada e “Precisa de mais açúcar”, “está muito doce”, “está aguado”? Acredito que algo parecido, seja qual for o contexto, já tenha acontecido contigo.
                     O fato é: quem hoje em dia se preocupa em olhar a vida da pessoa, a experiência que ela tem a dizer e ensinar, pelo ponto de vista dela? Quem se preocupa em querer entender que fazer tal caminho NÃO dá no mesmo?  Existem até os que acreditam (e às vezes até impõem) que sua decisão é que define o que é melhor. Parece que algumas pessoas não querem deixar de pensar nas suas crenças pessoais, pois pensar desse ponto de vista do outro, tentar entendê-lo um pouco mais, dá trabalho. E às vezes muito!!! E talvez por conta disso não lhes seja interessante persistir na tentativa. Não que tenhamos que nos esforçar o tempo todo para isso, para nos mergulharmos nessas concepções de “mundos próprios”, mas será que não nos falta um pouco mais de esforço para tentarmos nos entender?
             Freud dizia o quanto é complicado entendermos uns aos outros, uma vez que mal conseguimos nos entender. Ainda que seja complicado e impossível compreender plenamente alguém, parece que falta algo muito importante para que conflitos sejam diminuídos nas relações, o que no caso se trata da chamada empatia. Talvez somado a isso ainda a noção mais clara de que não somos dotados da razão plena que subjuga a subjetividade dos outros. Não sabemos tudo e nunca saberemos. Somos “castrados”, segundo o termo da psicanálise. Uma metáfora de uma lei não escrita, mas presente, que nos impede em relação ao nosso desejo de impor ao outro tudo o que queremos. Castrados subjetivamente com esse interdito que nos diz que não somos oniscientes, não somos onipresentes, não somos onipotentes. Não podemos tudo, e se te disseram isso, me desculpe, mas te engaram.
                   Agora, pensemos o seguinte: Cada pessoa tem sua própria noção das coisas (ou tem seu próprio mundo subjetivo), ao mostrarmos nossas diferenças de opiniões (as perspectivas do que acreditamos com base nesse mundo subjetivo particular de cada um) nós eventualmente entramos em conflito com as pessoas, e ao entrar em conflito, seja não discutindo ou discutindo o que se quer apresentar, isso gera muitas vezes uma defesa da nossa personalidade. Nossos argumentos são baseados nas experiências que temos ao longo da nossa história como seres vivos e pensantes. Logo, faz sentido querermos manter nosso ponto de vista. Mas em meio a isso surge um “eu não te entendo!”. E será mesmo que às pessoas querem se entender? Porque não é fácil ceder a uma concepção particular e concluir “É verdade, você estava certo (a) e eu não”. Mas ao mesmo tempo não é necessário cedermos a tudo o que nos apresentam como contra-argumento ao nosso.  No final, existe uma linha tênue onde é difícil às vezes avaliar o quanto vale a pena mudar por conta da opinião que o outro tem, de avaliar o quanto se quer entender aquela pessoa, se isso de fato agrega algo para você, e ao mesmo tempo, ser importante manter uma janela aberta para a possibilidade de uma nova perspectiva sobre si mesmo e sobre o outro, não no sentido de agradar ao outro por essa mudança, mas de nos sentirmos mais aptos a dar conta de um social que nos retalha muitas vezes.
     A busca por se conhecer permite que você possa definir e configurar melhor suas concepções. Existem de fato momentos em que devemos bater o pé e dizer “Não! É isso mesmo o que penso. Não concordo com você”. E ao se aprofundar nessas questões também iremos relevar mais, e entender que o outro ter suas próprias concepções e aceitemos que ela possa pensar diferente de nós e que essa ou aquela atitude não está errada ou certa, está apenas representando parte daquela pessoa. Como qualquer decisão que tomamos e que nos representa também. Particularmente acho triste que às pessoas queiram que acreditemos que o ponto de vista delas é o certo, e também ainda quando impõem sobre os outros isso. Por um lado de fato é o “certo”, mas para o ponto particular dela (e às vezes de alguns), não para todos. Pois por mais que todos bebam da mesma jarra de suco de laranja, nem todos concordam que o suco está doce: quero mais açúcar!   
        Em resumo, temos vários pontos a serem pensados com base nesse texto: O quanto se quer entender o outro; o quanto relevamos brigas por entender que existem outras perspectivas; o quando podemos aprender quando permitimos ser flexíveis com ideias; o quanto ficamos em silêncio por não conseguirmos nos expressar diante de um conflito; o quanto conseguimos enxergar em nós mesmos que tal ideal não se quer (e não se precisa) mudar? Esse texto é só um convite para a reflexão.

           Autor do artigo
           Leandro Winter

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