É necessário psicoterapia quando já se está tomando remédios?




                       Enquanto psicólogo, algumas vezes surgem questões sobre o uso de medicação por parte dos pacientes, querendo saber se é aconselhável, se precisam realmente etc. Mas não somente por ai essa questão aparece; é comum ler perguntas de pessoas que trazer essa dúvida e que se questionam tanto sobre ir num psiquiatra quanto ir num psicólogo. A necessidade de iniciar um tratamento com um psiquiatra se da pela urgência de combater algum quadro sintomático: o foco é o sintoma.  As pessoas querem se ver livres do que as afligem o quanto antes, o que podemos entender como uma postura comum ao ser humano frente a sua angústia. Como é terrível lidar com a angústia!!! Mas é necessário compreender que a medicação em si, por mais que ajude no tratamento de distúrbios no organismo, em certos casos não é necessariamente eficiente na superação de um quadro sintomático.  
                Usando o exemplo de depressão, o tratamento farmacológico em si não elimina completamente esse sofrimento, apenas irá estabilizar seus sintomas e características: tristeza, desanimo, vontade de isolamento, falta de perspectiva sobre a vida, introspecção profunda etc. Isso porque a causa da depressão tem uma imensa contribuição psíquica – além de também considerarmos uma contribuição genética que possa colaborar com seu aparecimento. Nesse sentido, não somente é importante o acompanhamento de um psiquiatra que ofereça apoio medicamentoso que possa aliviar os sintomas da depressão, até mesmo para que a pessoa tenha ânimo o suficiente para sair de casa e poder iniciar seu tratamento farmacológico, mas que também possa iniciar um tratamento psicoterapêutico. Quem está com um quadro depressivo e somente utiliza medicamentos, e espera com isso (às vezes milagrosamente) que seus sintomas desapareçam e nunca mais voltem, não tendo trabalhado o que pode ter causado isso no campo da subjetividade nos pensamentos, acaba fazendo metade do tratamento adequado. Podemos pensar num paralelo pela seguinte metáfora: é como se você estivesse no mar com um barco pequeno de madeira, e você fizesse o possível para que ele não afundasse tirando o máximo de água com um balde, de forma incansável, um atrás do outro, mas sem direcionar sua atenção para algo possível que pudesse tampar o buraco que faz com que ele seja invadido. Pensando nessa analogia, existe algo que invade o humor dos que sofrem com depressão (tristezas com alguma origem, ansiedades de algo, angústias fortes, medos, inseguranças etc.) e que se não trabalhada só será resolvida superficialmente pelo uso da medicação. Ela camufla os sintomas, mas o que origina ainda fica a vista.
              Por isso em determinados casos é necessário não somente o uso de medicação, mas um acompanhamento de outra área. Às vezes varias, multiprofissional! Nessa linha sobre a depressão, os antidepressivos, por exemplo, irão atuar sobre os neurotransmissores mais específicos que lidam com a estabilização do humor, fazendo com que eles voltem a uma homeostase esperada do organismo. A partir desse melhora significativa é possível que o sujeito dê inicio ao seu trabalho sobre suas questões de uma forma mais continua. Vale lembrar que usar medicação não torna ninguém, fraco. Ir para um psiquiatra e/ou para um psicólogo não te torna um louco. Às pessoas temem serem consideradas fracas emocionalmente. Existem momentos que precisamos de ajuda, que estamos debilidades. Isso é comum. Não é possível passar pela vida sem ter experimentado algum nível de sofrimento. Estar vivo é lidar com todas as possibilidades do que isso nos leva a experimentar. Ninguém deixa de passar por algum sofrimento. Já na hora do parto vivemos nossa primeira angústia, e uma violentíssima se formos parar para pensar! O que representa para um bebê sair de um lugar seguro e ir para o mundo real? É de se pensar. Precisar de um apoio não quer dizer que você é fraco ou fraca, mas sim que você se importa o suficiente consigo mesmo para admitir que algo não está certo naquele momento de sua vida. 

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