A pressa pela “cura”



                Quando se está angustiado por algo, supõe-se que o próximo movimento a ser realizado seja encontrar uma alternativa para que esta angústia diminua ou, felizes vezes, até mesmo desapareça. Sensibilizar-se com isso é buscar possíveis caminhos que poderiam trazer algo de novo. Por exemplo, uma vez que falte perspectiva de um futuro profissional, com isso gerando um desanimo crescente, procurasse por um novo sentido, ração, objetivo, algo que reformule aquela realidade para o sujeito. Buscasse uma novidade, algo que ofereça alguma satisfação durante esse processo e quando alcançado – assim se espera, ao menos. Entendemos que muitas vezes quando se percebe que ficar na mesma situação não é mais tolerável, então algo muda. O sujeito muda.
                O imediatismo que se propaga em prol da felicidade é uma caraterística da nossa sociedade de consumo. Propagandas que vinculam a felicidade a seus produtos, como que construindo uma (suposta) plataforma para um bem-estar existem “a rodo”, como dizem por ai. Quando pensamos em obter bens ou objetos, de alguma forma é como se fosse possível “comprar” a solução de nossas tristezas, nossos “vazios”, algo que preenche uma necessidade – o que de um lado tem lá seu sentido, como no sentido de satisfazer uma demanda. Pela obtenção de algo, então, fica resolvido o problema (será?). E se não é resolvido aquele mal-estar (como o desânimo relatado no início do texto), quando se percebe que o tempo não tem ajudado a superá-lo, então buscasse uma outra alternativa. Digamos, por exemplo, ir ao médico e conseguir algum remédio que, imediatamente quando tomado voltasse ao chamado estado “normal”.      
               Em algumas vezes a alternativa escolhida acaba sendo uma psicoterapia. E da mesma forma esperasse uma mudança evidente em algum tempo, às vezes beirando a exigência em uma única sessão; esperasse algo imediato. As pessoas querem, muitas vezes, aprender técnicas para lidar com seus problemas, pois desejam assim alcançar seu objetivo, seja melhorando sua postura profissional, seja aprendendo a lidar com sentimentos, mudar comportamentos etc. E de fato existem áreas que são focadas em apresentar ferramentas para direcionar essas questões. Mas existem determinadas questões humanas que não passam em torno do “imediatismo”. Existem mares profundos da alma que só com vários mergulhos exploratórios para se mapear suas correntezas e diversidades é que algo do que se espera mudar é conquistado. Ou seja, uma “cura” exigiria tempo, por assim dizer. Tem-se pressa por curar-se. Mas esse é o ponto às vezes, “procurar-se” exige por vezes uma investigação, uma análise – ainda que mudanças possam acontecer rapidamente.   
            Quando se trata de trabalhar sobre angústias, fica difícil dizer o tempo que se leva para alcançar o resultado esperado. Podemos fazer um paralelo em relação com uma ponte de aço, ferro-fundido ou outros tipos de materiais. A angústia é construída gradativamente ao longo da vida, da mesma forma que a ponte é construída gradativamente ao longo de um trecho entre rotas. Quando a ponte está acabada, ela se torna utilizável. Quando a angústia se estabelece sobre o sujeito (por exemplo, a angústia da morte), então ela se torna ativa e frequente. Vamos supor que, por alguma razão, essa ponte vai ser destruída. Dependendo dos recursos empregados, ela pode demorar muito tempo para ser reduzida a restos ou pode ser rapidamente pulverizada conforme o meio empregado para tal. Para livrar ou reduzir a angústia já não é um serviço tão imediato assim como possa parecer. Verdade seja dita que a medicação oferece muitas vezes uma impressão de controle e rapidez na resolução de problemas, mas o problema é que ela costuma atingir muitas vezes a superfície da questão quando nos deparamos com uma origem psíquica sobre determinado “mal”. Se você tentar destruir uma ponte usando um guindaste com uma bola de aço, provavelmente vai demorar um bom tempo para conseguir concluir o serviço, mas provavelmente será possível (não que esse seja o meio correto, mas é apenas uma analogia aqui rsrs). Já, se estiver com uma mareta em mãos como única forma de alcançar o objetivo, será impossível. Para algumas questões da vida, não buscar ajuda é como andar com essa mareta para lá e para cá. Não se alcança o objetivo e ainda por cima se carrega sempre um peso. Uma psicoterapia muitas vezes permite uma forma diferente de se lidar com algumas coisas. Ela pode ser justamente o guindaste que, apesar de demorado, pode ser mais efetivo do que uma mareta.
Quando se trata de encontrar origem para o sofrimento, geralmente ele não vem sozinho. É como se aquilo que nos sensibiliza e mexe tivessem várias influências e fossem se envolvendo de tal jeito que no fim parece até uma unidade: “Meu problema é X”. Só que no fim é preciso ir além de X para dele se saber mais. Durante a construção da nossa história pessoal como sujeitos, muito tempo se levou para que algumas bases se formassem firmes o suficiente para que fosse necessário um bom trabalho para ai sim alcançar alguma modificação nelas. As bases das nossas fantasias são firmes.

Por Leandro Winter

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