Sabe quando “pisam no seu calo”?
Quando “cutucam na ferida”? Quando querem falar sobre alguma coisa que aconteceu
na sua vida, que é um assunto delicado que você tem dificuldade ou simplesmente
não suporta falar? Na clínica consideramos que esse recuo ao assunto é, na
maioria das vezes, uma resistência psíquica. Mas podemos supor que as pessoas
de modo geral têm essas resistências? E isso é ruim? Teria um motivo para falar
daquilo que não se quer falar?
São perguntas interessantes para
quem se interessa em saber mais sobre os aspectos daquilo que é próprio do ser
humano. Saber mais sobre si mesmo é saber mais sobre os outros também, e
vice-versa. Nós só nos constituímos como indivíduos sociais que pensam com uma
estrutura de linguagem, porque existiram pessoas que nos inseriram nesse meio,
antes mesmo de nosso nascimento – a maioria de nós ganhou um nome e um lugar
antes de ver a luz pela primeira vez. Você, que lê este texto, só o consegue entender,
porque traduz as palavras escritas, esses desenhos padronizados, porque existe
um sistema de linguagem próprio cultural que permitiu isso. Ou seja, somos
seres que compartilham algo em comum.
Agora, voltando à questão
mencionada acima, podemos dizer que sim, que a maioria das pessoas possui
resistências psíquicas, porque isso é próprio do psiquismo humano. Você e seus
familiares e conhecidos, e até os desconhecidos, provavelmente possuem
dificuldades de lidar com determinado tema que percorre os seus pensamentos,
chegando até mesmo ao ponto de “esquecer” do assunto, de forma inconsciente,
para não ter que lidar com isso, pois é um gerador de angústia forte, gerando
um desprazer. E só temos resistências porque temos linguagem.
Então, se pensarmos por este aspecto,
podemos dizer que não é de forma alguma ruim ter essas resistências. Afinal, a
mente está prevenindo que algo se sobressaia a consciência, e que você sofra
por algo que não consegue dar conta. Podemos dizer que é algo positivo, um
mecanismo de defesa psíquico que nos privilegia a evitar angústia. Então, se
não se quer falar sobre isso, melhor nunca entrar no assunto, certo?
Bem, ai nos deparamos com um
problema, que é “esse assunto” sempre estar escondido – se está escondido, ele
está lá, ele existe. Tal como uma brincadeira de pique-esconde, onde você é
aquele quem procura e os outros se escondam, por mais que se esforcem, seu
objetivo é encontrá-los, o que fará eventualmente. E se não, eles irão aparecer
em algum momento. Isso significa que muito do tema que se resiste em não pensar
acaba por aparecer de alguma forma. Por exemplo, nas relações amorosas, quando
o parceiro ou a parceira pergunta “O que aconteceu?”, mesmo que você responda “Nada”,
você eventualmente irá apresentar o motivo da sua chateação, às vezes porque
perceberam isso no seu jeito no dia a dia que mudou ou em algo que escapou e
falou. Não é mesmo? E isso apenas em um exemplo simples.
Podemos dizer que às
resistências, de modo geral, são boas para fazer sofrimentos e angústias não
aparecerem – e que algumas talvez não precisem ser trabalhadas, dependendo do
caso. Mas por outro lado, elas precisam de uma válvula de escape e elas
encontram sempre um jeito de aparecerem. Algumas vezes essa forma pode ser em sintomas,
em manifestações no corpo (conversões), em sonhos. Por isso é importante compreendê-las,
quando se quer superar determinado problema da vida, como ansiedade, medo, dificuldade
de relacionamentos... Existem coisas que não queremos olhar, mas é só nos
direcionando para elas é que enxergamos o que realmente está lá, às vezes
diminuindo sua gravidade. Afinal, quem busca mudança, não é fugindo do seu
problema que ele será resolvido realmente, por mais difícil que seja encará-lo.
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