Vale a pena fazer psicoterapia com profissional novo? Ou é melhor alguém com mais idade?




          Recentemente conversei com alguns colegas de profissão para refletir sobre algumas das experiências que eles tiveram em sua carreira clínica. O quanto se percebe a seleção do profissional por conta de sua idade, numa relação de qualidade? Existem muitos psicólogos se formando todo ano, muitos, já que possuímos diversas faculdades – como é o caso na cidade de Curitiba.  O mercado de trabalho fica repleto de novos psicoterapeutas, apesar de infelizmente não tão repleto assim em relação às vagas de trabalho na área clínica. Temos hoje muitos profissionais novos, com seus 22, 23 anos... iniciando sua carreira. É um cenário um tanto diferente daquilo que se via em seu início (século XIX), quando o saber e formação eram transmitidos para médicos. Nessa foto podemos ver alguns dos grandes estudiosos da psicanálise (Freud na extrema esquerda, sentado) e termos assim uma noção da idade dos que nela se envolviam. Vale lembrar que era na época uma profissão na sua maioria formada por homens, diferente de hoje em dia em que são maioria as mulheres, provavelmente correspondendo a 2/3 (dois terços) dos formados. (No Paraná são aproximadamente 15.000 psicólogas e 2.000 psicólogos: ver mais informações no site www2.cfp.org.br/infografico/quantos-somos/)
          Um(a) jovem psicólogo(a) poderia dar conta do sofrimento do seu paciente? Vale a pena sempre procurar alguém mais velho como representação de garantia de um bom atendimento? Essas dúvidas podem aparecer na hora de se programar para uma psicoterapia. São legitimas quando se procura por resultados no enfrentamento do sofrimento. Afinal, queremos resultados e não sermos enrolados, não?
Pois bem... Talvez estejamos banhados ainda pela ideia de que a idade proporciona grande conhecimento sobre a vida, e com isso, tornasse mais fácil se falar dela. Sendo assim, alguém que tenha mais idade pode saber mais do meu sofrimento, não? E com isso pode me oferecer mais “dicas” sobre o que fazer, não é mesmo? Bem, infelizmente não é assim que funciona (E ainda bem que não!). Primeiro temos que entender do que se trata um atendimento psicológico. Pense agora um pouco qual seria a sua ideia de um tratamento assim. Você se imagina com um profissional com um bloco de notas em mãos, anotando o que você fala, deitado num divã, sendo banhado por um conhecimento sobre si, em pouco tempo de tratamento? Infelizmente sinto te informar que não é bem assim que acontece. Muito menos nessas configurações, pois, por exemplo, nem todos os profissionais usam divã.  Um segundo ponto é que em um tratamento desses não se trata de dar “dicas” de vida para os pacientes, com base no que o profissional já viveu, mas sim de proporcionar um espaço de escuta especializada daquilo que é singular do paciente, para captar elementos do inconsciente e fazer surgir muitas vezes aquilo que não queremos falar, pois nos angústia e nada queremos saber dessa angústia. E para isso é necessário teoria, estudos, muuuitos estudos e um tanto de afastamento de vivencias da vida pessoal do psicólogo para não confundir com o que o paciente está vivendo – pois cada experiência de vida sempre será única. Se um psicólogo lhe diz o que é melhor para você, apontando caminhos, pois ele “já passou por isso”, lhe dizendo exatamente o que fazer, duvide da qualidade de seu serviço. Vá com calma. Pois por mais que ele ou ela tenha mesmo passado por algo semelhante, nunca será exatamente o mesmo cenário. Por isso não se dá conselhos em um consultório – falo pelo menos aos que seguem a psicanálise como abordagem teórica. Mas se não se trata da experiência de vida propriamente falando, como funciona?
Podemos dizer que a psicoterapia tem seu peso efetivo no tratamento de seus pacientes com base no manejo da teoria, tendo como referência aquilo que nos deparamos na clínica, sendo a idade do profissional em si algo menos relevante. Mas você pode dizer que mesmo assim, seguindo essa lógica, que “Podemos escolher sempre alguém mais velho, pois isso significa que ele tem mais manejo clínico, certo?”. Depende. Se a pessoa iniciou cedo sua vida profissional e passa os próximos anos estudando e compreendo a ciência da psicologia, concordo. Não isso não é uma regra, correto? Porque qualquer um pode iniciar sua formação em psicologia, não importa sua idade. Outro ponto é que idade não representa sabedoria necessariamente. Se fosse assim, poderíamos supor que todos os idosos seriam frequentemente solicitados para resolver os mais variados problemas, e sabemos que não é bem assim.

Em resumo, podemos dizer que o atendimento com psicólogos jovens não é uma problema devido há sua pouca idade, pois não se trata de ter o conhecimento da vida cotidiana simplesmente, mas sim usar esse conhecimento como base dos estudos das ações humanas, na direção de uma construção e evolução de um saber teórico.  Mas também, que seja dita a verdade, cabe a cada um escolher o profissional que bem entender. Temos toda a liberdade de nos sentirmos mais a vontade em escolher um tratamento com homem ou mulher, seja jovem ou não. Alias, tem muita gente que gosta de fazer atendimento com jovens, pois acredita que eles serão muito mais atenciosos com eles, pois estão iniciando, e tem muito mais vontade de mergulhar em sua história de vida, pois alguém com mais idade não teria tanta paciência assim. Mas isso também é uma percepção que podemos discutir em outro texto. 

Escrito pelo psicólogo e psicanalista Leandro Winter

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