Ser psicólogo clínico não é fácil no
Brasil (não sei dizer em outros lugares). É uma carreira que não possui muitas
oportunidades de emprego no mercado. As vagas abertas para os profissionais
geralmente se referem a concurso público e clínicas de convênio, geralmente com
profissionais se digladiando para alcançar alguma oportunidade e a tão sonhada
estabilidade. Eu, que sou psicólogo clínico, entendo na pele essa dificuldade e
me solidarizo com meus colegas que se dedicam tanto a conseguir reconhecimento e
a conseguir manter seu desejo de clinicar.
Como estamos conectados a internet,
existem novos canais de acesso entre aqueles que oferecem serviços e os que
dele o desejam, e para os que querem uma psicoterapia isso não é diferente.
Grupos de pacientes solicitam atendimento em determinadas páginas de busca.
Entendo que queremos encher nossos consultórios e ganhar bem, como qualquer
outro profissional. Mas me parece um pouco desesperador a atitude de alguns
colegas que, quando pacientes solicitam uma indicação, não se atentam ao que
eles estão solicitando. Às vezes eles querem especificamente alguém de alguma
região, às vezes é o interesse apenas por tal abordagem, às vezes é mais por
conta do horário... Onde fica o respeito por reconhecer aquilo que é do limite
do sujeito, para que ele possa dar início a seu tratamento? Onde acaba o
profissionalismo e começa o desespero por querer se sobressair aos outros, a
custa de ver o paciente apenas como uma moeda que entra a cada sessão?
Vejo
pacientes colocando suas necessidades a vista, mas psicólogos não as vendo. E
isto é triste! Ser psicólogo é fazer com que aquele que busca sua ajuda muitas
vezes reconheça algum desejo, seja ele qual forma, e muitas vezes tendo que
lidar com a angústia que isso proporciona... E alguns profissionais já começam
abafando justamente essa premissa... O reconhecimento. Acho triste essa
postura. Eu entendo que ser psicólogo clínico é difícil, e que precisamos viver
do nosso trabalho, pois esse é sistema econômico que estamos inseridos. Mas
será que não está havendo um exagero ai e uma falta de respeito com justamente
a quem iremos acolher? A meu ver, ser psicólogo não é submeter o paciente ao
desejo do psicoterapeuta: seja o meu paciente! Mas sim trabalhar com os limites
que ele apresenta e o que pode ser ressignificado, mesmo que para isso tenhamos
que trabalhar a resistência do paciente em desistir da própria terapia com o
profissional para que seja procurado outro que lhe convenha mais...
Em outras palavras, às vezes sinto
haver psicólogos desesperados...
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